Muito obrigada, Carlos

17/10/2011

Se algumas empresas soubessem como é rica uma visita diária a alguns estabelecimentos comerciais, exigiriam que seus funcionários saíssem de seus escritórios e visitassem diariamente as gôndolas dos supermercados, ouvindo as histórias dos consumidores e conhecendo, com maior profundidade, a psicologia do consumo.

Bom, deixe-me contar uma história.

Eu pratico corrida e por diversas vezes tenho câimbras à noite. O médico recomendou um copo de água de coco após as atividades esportivas.

Semanas atrás passei no supermercado para comprar o tal “remédio”. Estava na gôndola dos sucos e refrigerantes e presenciei a conversa de uma mãe com o filho de aproximadamente 7 anos.
Ela pegou duas embalagens de uma marca de suco de laranja bem conhecida e colocou na cestinha. Rapidamente o filho retrucou.

- Não mãe. Não é este suco que a gente toma.

Achei tão engraçado uma criança falar daquela maneira que foi impossível não participar do interessante diálogo. E fiquei ali na gôndola ouvindo a conversa alheia.

A mãe reagiu rapidamente:

- Filho, este suco de laranja também é muito bom e está na promoção, apontando para as duas caixinhas que já havia colocado na cestinha.

O menino fez um bico enorme e disse uma das frases mais incríveis que eu já tinha ouvido:

- Mas as laranjas deste suco não são lavadas pelo Carlos, aquelas são, apontando para uma outra marca de suco com um preço mais elevado.

Eu comecei a rir sem entender nada e a mãe também riu. Ela beijou o filho e trocou as caixas sem retrucar mais nenhuma palavra.

Eu saí do supermercado intrigada. Naquele dia pensei que o tal Carlos fosse amigo da família e que trabalhasse na empresa que fabricava o produto. E o menino, ainda tão pequeno, já era fiel a marca.

Alguns dias depois, uma amiga do trabalho chegou de manhã com uma caixinha do tal suco de laranja e veio em minha direção.

- Denise, você conhece este suco? É incrível.
Eu respondi com uma pergunta:

- O que ele tem de diferente? Todo suco de laranja de caixinha tem o mesmo sabor...

E ela nem deixou eu terminar as minhas teorias sobre os sucos industrializados e os naturais e disse:

- Todos os produtos desta marca têm uma história. Esta aqui fala do Carlos. Você sabia que tem uma pessoa que analisa as laranjas para garantir um produto de melhor qualidade? A da água de coco é genial. A história do mate então, fala da praia de Ipanema. Você tem que conhecer.

BINGO!
Naquele dia entendi o que aquele menino no supermercado quis dizer com o tal do Carlos e fiquei mais intrigada ainda.

Como pode um produto vender por suas histórias da caixa? Como pode mexer com uma criança e com um adulto desta maneira?

Após o trabalho passei no supermercado e comprei todos os produtos da marca. A água de coco, o suco de laranja, de uva, de limão, o mate.

Provei cada um deles, mas já embebida com as histórias da caixinha. Cada gole que eu dava, lembrava do Carlos, do mateiro Joeser, dos miquinhos na Bahia. Tudo isto está escrito nas caixinhas.

E pronto, fiquei fã da marca.
Gostaria de lembrar que minha intenção aqui não é fazer propaganda da marca ou do produto, embora agora só beba água de coco anão verde.

Compartilho esta experiência com vocês para dizer o seguinte:

Muitos produtos semelhantes são lançados semanalmente. Semelhantes até mesmo na qualidade e no sabor. A concorrência é grande e agressiva.
Uma marca pode vender mais por ter um preço competitivo, por ter uma qualidade infinitamente superior em relação aos seus concorrentes ou por ter uma abordagem diferente.

A marca do exemplo consegue atrair clientes por suas histórias que comovem e que aproximam. Ninguém nunca havia pensado nisso para uma caixinha de suco.

Portanto, se você quer fazer algo diferente, terá que pesquisar muito e criar algo realmente novo e inesquecível. Não precisa ser nenhuma invenção incrível com fórmulas difíceis. Às vezes, uma abordagem simples e direta, mas que emociona e fala diretamente com o cliente, já é o suficiente para atingir os consumidores.

A partir de hoje, busque algo em seu trabalho que nunca ninguém pensou realizar. Algo simples, mas que faça diferença para muitas pessoas. Possivelmente você fará muito sucesso!

Ah! E já ia esquecendo...
Carlos, continue analisando nossas laranjinhas-pêra. Nós agradecemos.