Parar, repensar e começar de novo

21/05/2012

Há algum tempo venho acompanhando com admiração o trabalho de Waldemar Niclevicz, primeiro alpinista brasileiro a escalar o Everest.

Admiro-o não apenas pelos seus grandes feitos, mas pela forma como encara as inúmeras adversidades que vivencia em sua profissão.

No dia 18 de março, ele iniciou sua escalada à grande Annapurna, 10ª mais alta montanha do mundo, localizada no Nepal. Até hoje, apenas 191 alpinistas completaram esse desafio com sucesso e 64 morreram tentando. O seu índice de fatalidade é bastante alto – 33,50%.

Em abril, Waldemar e sua equipe enfrentaram, por diversas vezes, sérios riscos de vida. No final do mês, um dos seus acampamentos foi soterrado, mas todos sobreviveram.

Foi então que ele precisou repensar os seus planos. Obstinação, paixão e disciplina são as palavras que definem muito bem esse corajoso profissional, mas até que ponto valia a pena arriscar a sua vida e da equipe?

No início do mês de maio ele deu o seguinte depoimento que pode ser lido na íntegra em seu site www.niclevicz.com.br:

“...Hoje já estávamos indo para o acampamento 3, com a esperança de finalizar com êxito a escalada do Annapurna, mas, como aconteceu na tentativa anterior, fomos surpreendidos pelas avalanches, e muitos voltaram para o acampamento-base...
Até que ponto vale arriscar? Transformar uma escalada numa roleta russa? Cada um tem a sua resposta. Para mim essa não é a temporada adequada.
Eu estou voltando para o meu Amado Brasil”. 

Geralmente ouvimos que não podemos nem devemos desistir dos nossos sonhos, e que a perseverança nos levará a atingir nossas metas. Isso é verdade, mas haverá também um momento em que teremos de dar um tempo estratégico e nos prepararmos melhor para voltarmos com mais segurança, sobretudo quando algo insiste em dar errado e vai de encontro ao que havíamos planejado.

Em outras situações, precisaremos olhar para trás e, mesmo percebendo o quanto já caminhamos, será necessário seguir outro caminho, pegar outra estrada, pois aquela não nos levará mais aos nossos objetivos.

Isso acontece porque a vida está em constante mudança e estamos expostos a fatores externos diariamente. Conhecemos novas pessoas, novos lugares, adquirimos novos gostos, mudamos de planos.

Waldemar tentará de novo? Provavelmente sim, pois esta é a sua missão e o que ele ama fazer. Estudará as adversidades e estará mais preparado da próxima vez.

Muitas vezes parar por um momento para repensar as estratégias não representa sinal de fraqueza, mas de sabedoria e maturidade.

Precisamos entender o que não está dando certo e recomeçar com uma nova estratégia.

Logo, não tenha vergonha de parar, repensar e começar de novo. Isso faz parte da vida. O que não devemos fazer é desistir em virtude dos obstáculos e aceitar passivamente que não fomos capazes de conseguir.

A foto que ilustra esse texto é de Waldemar Niclevicz no alto do Everest (8.848m) em 14/05/95. Ela foi tirada por Mozart Catão.